segunda-feira, 16 de março de 2009

Acaba


Sim, o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos:
"Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar...".
Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto da caneta-tinteiro do amor. E pronto. Às vezes com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de antigamente, SANGUE, SANGUE, SANGUE!!!Sem reticências... Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, sabem que não faz sentido a prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita.O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim!!! O macho pode até sair para comprar cigarro na esquina e nunca mais voltar. E sair por aí dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no cigarro sem filtro da covardia e do desamor. Mulher se acaba, mas diz na lata, sem metáforas.
Melhor mesmo, para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro. O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada. Nem aqui nem na Suécia. Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o "the end" sem pelo menos uma discussão calorosa. Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava. O mais frio, o mais "cool" dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.
O que não pode é sair por aí assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo. O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira criatura ou com o primeiro mancebo que aparece pela frente.

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